domingo, 26 de março de 2017

Austrália: "quase" proibida para cadeirantes

Opera House - Sydney, Austrália
A Austrália é linda, clima gostoso e pessoas amigáveis. Mas isso você SÓ percebe, depois de conseguir triscar as rodinhas por lá. Já visitei uns vinte países, e juro, pensei que seria impossível conhecer a Austrália (por isso a foto tema do blog). Explico:

Pode até parecer, mas não sou tão louca assim. hehe... Avalio a probabilidade de risco nas minhas aventuras. Imprevistos podem acontecer com qualquer um. E sempre acontecem comigo.☺ Daí, melhor prevenir.

Conhecer a Austrália era um sonho. Só que o país é tão longe do Brasil, que rolou um medo, que durou até... meu irmão resolver ir. Penetrei a viagem dele e com antecedência, parceladinho, comprei tudo: hotel e passagens. Nunca pensei que teria problemas com o visto. But...

O drama do visto para cadeirantes

Minha vida tava meio muuuuito corrida até a Paralimpíada (fui cobrir os jogos como jornalista e chupar o dedo como paratleta. hehe quase! Era a 1a reserva na lista mundial). Bom, Rio 2016 acabou em setembro e entrei com o pedido de visto para a Austrália em outubro, três meses de antecedência da viagem. Após um mês, 24 de novembro, recebo a seguinte intimação do despachante:

"Bom dia Sra. Carla, O Departamento de Imigração julgou necessário solicitar exames médicos para a senhora, segue abaixo as instruções."

Opa! Deu medo...  Meu otimismo me consolava: Ah, tá! Como eu coloquei no formulário (enoooorme, diga-se de passagem, 2h respondendo!) que eu era tetraplégica, devem estar com medo de eu não ter condições de saúde para viajar. A Austrália é um continente, mas muita gente a chama de continente-ilha. Daí, tem que se proteger de doenças infectocontagiosas... Apesar disso, no fundo, eu tava achando uma droga ter que passar por avaliação de saúde por ter uma deficiência. Mesmo me sentindo invadida na dignidade, fui. Até então, via sombra de razão na solicitação obrigatória.

O médico brasileiro foi bacana. Avaliou minha saúde, urina, pressão... e tals. Perguntou coisas sobre minha vida e achou legal saber que eu sou paratleta e jornalista, com várias viagens no currículo. Ao final da consulta, eu pergunto: "tenho chances, doutor?". Ele respondeu: "claro, você é mais ativa do que muita gente sem deficiência". Saí toda feliz do consultório. Só que mais tarde ele me liga com perguntas dos médicos do consulado. Perguntas do tipo: se consigo me vestir só, tocar a cadeira, fazer xixi...  coisas que vocês já sabem do post A primeira viagem: Atenas 2004. Sempre viajo com uma cuidadora. Aliás, o processo do visto dela estava correndo junto com o meu, ela só iria, se eu fosse. Só que para minha ajudante não foi solicitado exames médicos prévios.

Mais uma angustiante demora, dia 19 de dezembro (praticamente a um mês da viagem). Recebo a negativa prévia: 

Parte do documento que recebi da avaliação médica do Commonwealth

"Uma avaliação do seu estado de saúde por um Médico Oficial da Commonwealth (MOC) foi concluída. Depois de uma cuidadosa consideração, o MOC determinou que você não atente o requisito de saúde para viajar para a Austrália. Antes que uma decisão seja tomada em sua solicitação do visto de turista, você é convidado a comentar o parecer do Médico da Commonwealth."












                                                                                                                                          
Oi??? Tem gente confundindo deficiência com doença?! Ou é discriminação?!  

A Commonwealth é uma organização de países, em sua maioria, ex-colônias Britânicas. Os países-membro são considerados iguais em status. O documento do médico da Commonwealth é claro: a negativa se dá pelo risco de eu, tetraplégica, requerer serviços de saúde e outros, destinados aos com deficiência da Austrália. E isso teria um custo significante. Eu só queria fazer turismo, não fugir do Brasil.
Parte da carta que enviei em minha defesa ao Consulado

Como me deram a chance de contra-argumentar, arregacei as mangas. Afinal, dentre os integrantes da Commonwealth, eu já visitei dois países: Reino Unido e Canadá. Sem exigências de avaliação de saúde ou dificuldades em tirar o visto. Esse já foi um dos argumentos da minha carta.

Alguns dias e juntei todos documentos. Da Confederação de tênis de mesa confirmando que já competi em 33 eventos, e em muitos países, da TV em que trabalho, e do meu médico, claro, afirmando que eu não tinha doenças e que minha deficiência não contra-indicava viagens. Hehe... Quem quiser uma cópia integral da carta, peça em privado.

Entrevista com a deputada federal Mara Gabrilli

Além disso, tive a oportunidade de entrevistar a deputada federal, Mara Gabrilli, que tem uma tetraplegia (bem mais limitante fisicamente que a minha), quando contei o ocorrido. Ela me disse que não sou a primeira cadeirante a passar por isso. E que até já conversou com o embaixador Australiano sobre esse problema. 
Um amigo me mandou o link de um caso semelhante. Uma cadeirante paraplégica que queria estudar oito meses por lá (caso visto negado Thais). 

Após todo esse estresse, saiu meu visto dia 30 de dezembro. Ufa!
 Ehhh!!! Alegria de pobre dura pouco. Ainda dependia do visto da minha cuidadora, que só foi sair três dias antes da viagem!! Sufoco. Detalhe: no meu visto, tenho que voltar da Austrália até JUNHO de 2017. Já a minha cuidadora, até JANEIRO de 2018! Será que houve diferenciação??

Dica: se você é cadeirante, solicite o visto com muita antecedência! E prepare-se.

O pior é que amei o país!! Fiquei com muita vontade de estudar um tempo por lá. Será que eles me dariam o visto?? Ai, que preguiça!!

Vamos nessa!

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